segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

TESOUROS VIVOS DA CULTURA NO CEARÁ


A Secretaria da Cultura do Ceará define como “Tesouros Vivos da Cultura” as pessoas, grupos e comunidades que são, reconhecidamente, detentoras de conhecimentos da tradição popular do Estado. Através de edital público, a Secult identifica e recebe inscrições para o processo seletivo que confere o título e um auxílio financeiro temporário ou vitalício aos selecionados no valor de um salário mínimo. Este reconhecimento é o primeiro passo para que se consiga, futuramente, reivindicar o direito à proteção da propriedade intelectual dos artistas populares. O programa de reconhecimento e apoio aos artistas que tem suas artes ou ofícios ligados à cultura imaterial foi reconhecido no ano de 2007, pelo MInistério da Cultura, com o prêmio Culturas Populares.
Legislação - O Ceará deu um passo adiante de outros Estados brasileiros na preservação e proteção do seu patrimônio imaterial. Com a Lei nº 13.351 (27 de agosto de 2003), o Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura (Secult), garantiu o registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular, apoiando e preservando a memória cultural do nosso povo, transmitindo às gerações futuras o saber e a arte sobre os quais construímos a nossa história. Em 2006, esta Lei foi revisada e ampliada, trazendo a manutenção dos grupos e coletividades. Publicada no Diário Oficial do Estado do Ceará, a Lei dos Tesouros Vivos da Cultura (Nº 13.842, de 27 de novembro de 2006) está disponível neste site no link Legislação.
Livro dos Mestres - Diplomado “Tesouro Vivo”, que é um reconhecimento simbólico de sua importância no contexto cultural do Estado, o artista tem seu nome inscrito no Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular, livro próprio da Secretaria da Cultura, específico, sob a guarda da Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural (COPAHC).
MESTRES DA CULTURA 2006
Nome: Sebastião Alves Lourenço
Nome Artístico: Sebastião Chicute
Data de Nasc.: 24/04/1934
Tradição Cultural Desenvolvida: Cordelista e reisado.
Cidade: Capistrano
Mestre Sebastião Chicute, além de mestre de reisado, tem também a arte de fazer versos como autor de livros de cordel e de canções sertanejas. Teve sua vida toda dedicada à cultura, através de seu esforço pessoal, sem apoio oficial, sempre se procurou manter viva a tradição do cordel e reisado.

Fonte: www.secult.ce.gov.br
Pesquisador:
FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES

REISADO DE CARETAS DO MESTRE SEBASTIÃO CHICUTE


Francisco Artur Pinheiro Alves
Artur.uece@yahoo.com.br

No período, entre o natal e o dia de Reis, há a tradicional brincadeira dos caretas ou papangus. Na verdade é uma das versões do bumba-meu-boi, que no Pará e Maranhão acontece no período junino, mas que em outras partes do Brasil, como no Ceará, ocorre no natal. Trazido pelos portugueses da Península Ibérica, aqui se adaptou e recebeu as diversas conotações regionais. Em Capistrano esta tradição vem sendo mantida pelo mestre de nossa cultura Sebastião Alves Lourenço ( Sebastião Chicute). Ano passado o reisado do mestre Sebastião Chicute foi premiado pelo BNB de Cultura, motivo de orgulho para todos os capistranenses. Este fato fez com que a própria cidade valorizasse mais o seu grupo de tradição popular, tendo assistido a várias apresentações no segundo semestre, mesmo antes das festas de Natal e do dia de reis. O grupo também foi convidado para se apresentar em outras cidades como: Itapiúna, Aracoiaba, Fortaleza e mais recentemente em Ocara.
O reisado do mestre sebastião Chicute é um grupo formado por homens da terceira idade, em sua maioria, crianças e adolescentes, mulheres, cada um com a sua função. Há o grupo de caretas, os caboclos, que em outras regiões, são denominados de Mateus,, os que compõem a segurança, (polícia) as damas, (este jovens adolescentes), a velha, que assusta as crianças, o sanfoneiro, o pandeireta e os que dançam com as figuras. As mulheres ficam no apoio, não dançam. As figuras, são: o boi, a principal, ele dança, é morto, repartido e depois ressuscita; a burrinha, que dança o trancelim, uma coreografia em forma de 8, a pinta, que é uma versão da ema, posto que não há emas em nossa região, e o bode, que é o mais espalhafatoso. Ao que parece, a figura do bode é mais uma adaptação regional, devido ao folclore que se tem em torno deste animal no sertão.
Eles dançam e cantam do início ao fim da comédia, recitando versos decorados e improvisados, dependendo da capacidade artística do componente. Tudo sob o comando do mestre, que determina o momento certo da entrada e saída de cena de cada caboclo. É uma tradição que foi esquecida com o advento das novas tecnologias na área do lazer e do entretenimento e com o processo de urbanização, mas que está sendo, como que renascendo.
Este registro é parte de uma trabalho de extensão universitária que estamos desenvolvendo em Capistrano, no qual queremos mapear e catalogar todos os grupos de reisados do município, atuais e que já se extinguiram, bem como o registro de cada membro como autênticos portadores da cultura popular. Em dezembro, queremos fazer o primeiro festival de reisados da região, em Capistrano, para isso já estamos fazendo os primeiros contatos com a SECULT, para nos apoiar nesta empreitada.

REISADO do Mestre Sebastião Chicute de Capistrano


Prof.Dr. Francisco Artur Pinheiro Alves
artur.uece@yahoo.com.br

Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro de Luis da Câmara Cascudo, reisado é a denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera do dia de Reis ( 6 de janeiro) ... O reisado tem sua origem na Idade Média. O auto popular profano-religioso, pertence ao ciclo natalino, é formado por grupos de músicos, cantadores e dançadores que vão de porta em porta anunciara chegada do Messias e homenagear os três Reis Magos. O reisado pode ser apenas cantoria como também possuir ou série de pequenos atos encadeados ou não (Cascudo, 2001: 581).
Estamos vivenciando exatamente o ciclo natalino e apesar da grande mudança no comportamento das pessoas influenciadas pela ideologia consumista do Capitalismo, que transformou o natal em uma festa predominantemente consumista, ainda existem grupos de reisado que resistem às estas transformações. A prova disso é esta reportagem do Jornal O POVO, sobre o grupo Cordão Caroá que se apresenta no Benfica e que no dia 6 fará uma grande apresentação, com vários mestres e grupos de reisado tradicionais, na Reitoria da UFC em Fortaleza.
Sabe-se também que no Cariri, sobretudo em Juazeiro, há vários grupos de reisado e que se apresentam neste período do ano. Conversando com pessoas mais velhas, elas são unânimes em afirmar que quando criança, assistiam e participava, até, de grupos de reisado em seu bairro, ou na localidade em que viviam. O reisado fazia parte dos festejos natalinos, todos participavam. Via de regra estas pessoas guardam na memória fragmentos de músicas e versos que cantavam e recitavam nas brincadeiras de reisado.
Particularmente a partir de 2005, temos acompanhado as apresentações do mestre Sebastião Chicute, em Capistrano e temos constatado a vitalidade que estas pessoas que brincam reisado, no caso do grupo dele, muitos acima dos 70 anos. De assistente passamos a pesquisador e onde produzimos um estudo sobre o mestre da Cultura Sebastião Chicute, onde procuramos fazer uma relação com a educação patrimonial imaterial.O resultado de tal pesquisa foi nossa tese de doutorado defendida junta à Universidad Autônoma de Asunción. Um dos capítulos da tese é exatamente a análise do reisado, posto que além de mestre de reisado, Sebastião Chicute é também cordelista.
E para contribuir com a continuidade da brincadeira de reisado na região, promovemos todos os anos, no final de semana mais próximo do dia de reis, uma terreirada em uma pequena casa que possuímos na localidade de Carqueija dos Alves em Capistrano, e que abriga um embrião de um ecomuseu rural.
Este ano de 2012, no que pese a saúde do Mestre Sebastião Chicute não permitir que ele faça muito esforço sobretudo em pé, dançando, mas está garantida a apresentação do grupo no dia 07. Estaremos lá: Sebastião Chicute, Luzia sua companheira, Milagre o dançador da burrinha, Capitu, Luis Silva, Luis Duarte, com 85 anos, com sua sanfona, Adriano no papel da vitalina, Sr Manuel, Pirulito no papel de soldado, dentre outros que acompanham o mestre Chicute. Assim na teoria e na prática, estamos contribuindo para a preservação deste auto de natal, de caráter popular que a centenas de anos vem sendo transmitida de geração para geração, se renovando se readaptando aos tempos e lugares, mas preservando o seu núcleo central que é a homenagem aos Reis magos que visitaram o Menino Jesus em sua manjedoura conforme está descrito pelo evangelista Mateus.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

FÉ, DEVOÇÃO E TRADIÇÃO EM CAPISTRANO

Madrugada de domingo em Capistrano. 4 horas da manhã o sino da Igreja matriz toca lentamente. O som das badaladas invade todos os espaços de seu entorno. Com pouco tempo, vão saindo pessoas das casas, umas solitárias outras em grupo, todas caminham para a igreja.
4:30, os preparos da caminhada estão concluídos. O som foi testado, faz-se um pequeno ensaio dos cânticos e começa uma nova caminhada com Maria, hoje para o zonal 10, na rua do Meio. Sim este é o nome da rua, por ficar entre a rua Videlina e a rua do Trilho. Aos som de cânticos intercalados com mistérios do texto, uma grande quantidade de pessoas caminha pelas ruas da pequena cidade, tendo a frente o andor com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Mais pessoas acompanham, o andor é carregado por 4 pessoas que se revezam de vez em quando. Todos querem participar.
Um cântico chama a atenção dos que ainda estão em casa: “Mãe da Igreja! , passa por aqui!, ôôô! Maria! passa por aqui!”. ôôô! Maria! passa por aqui!”.
Chegada ao local o cortejo é recebido com muitas palmas. Faz-se uma recepção em orações, reza-se mais um pai nosso, canta-se o hino de aclamação ao Evangelho que é lido em seguida. O pe. Lembra da passagem das bodas de Cana, onde Maria disse; “ façam tudo que ele disser”.
Terminada a pregação, dia claro, agora é hora da confraternização. O café da manhã está apostos. Muito café, chá, bolos de toda qualidade, pão etc. Todos comem á vontade, mas ainda sobra. A rua do Meio é uma comunidade pobre, mas sabe receber as pessoas, da-lhes o melhor e com abundância.
Termina mais uma caminhada matinal com Maria em Capistrano. Serão 9 dias de atividades: manhã, tarde e noite. Pela manhã a caminhada com café comunitário, à tarde tem o momento da graça, às 15 horas e á noite a missa na matriz ás 7 horas da noite. È a chamada novena. Os católicos locais vão todas as noites. A Igreja é lotada. Na última noite a missa será campal, pois a igreja não comporta. A festa será encerrada com o Círio de Nazaré, dia 8 de setembro, às 17 horas. Após a procissão mais uma missa campal celebrada pelo bispo diocesano de Quixadá, dom Ângelo.

Prof. Artur Pinheiro
Colaborador

CIRIO DE NAZARÉ DE CAPISTRANO 2009

Com o lema “As mãos de Maria nos conduzem a Jesus” começam neste dia 29 de agosto em Capistrano, as festas centenárias da padroeira de Capistrano Nossa Senhora de Nazaré. A culminância da festa é o V CÍRIO DE NAZARÉ DE CAPISTRANO, que ocorre no dia 8 de setembro.
O Círio de Nazaré foi agregado à festa, desde 2004, com a realização do I Círio, que foi recebido com grande sucesso pelos fiéis católicos de Capistrano e da região. Esta festa é uma das maiores da Diocese de Quixadá, à qual a paróquia de Capistrano. A última revista Círios de Belém, que publica todos os Círios de Nazaré de todo o mundo, incluiu o Círio de Capistrano na sua edição, dando cobertura com reportagem e fotografias.
Nós capistranenses e em particular os organizadores da festa, convidamos a todos os conterrâneos para este momento de encontro fraterno e de paz, sob as bênção de Maria e de seu filho nosso senhor Jesus Cristo. Este convite é extensivo a todos devotos de Nossa Senhora do Ceará e do Brasil. Queremos que o Círio de Nazaré de Capistrano se torne uma festa regional e conhecida em todo Brasil. Aqueles que não puderem ir ao Círio de Belém, podem ir ao Círio de Capistrano, pois será recebido com o mesmo calor humano por todos os participantes e coordenadores da festa, este é o desejo de todos e em particular do Pe. Francisco Eudásio, pároco local.
Em tempo de cuidados especiais para prevenir a gripe suína, recomendamos todos os cuidados higiênicos preconizados pelas autoridades de saúde, para todos os participantes do vento religioso. Nossa Senhora nos quer bem e nos quer todos gozando de boa saúde, por isso quem tiver com os sintomas da gripe está desobrigado de participar das atividades religiosas com grande concentração de pessoas como esta.
No mais resta pedir aos meios de comunicação do estado a fazerem a cobertura desta que será, em breve, uma das maiores do estado do Ceará, já que o Círio de Belém é a maior festa do catolicismo brasileiro.

domingo, 17 de junho de 2007

MATANÇA DO BOI

MATANÇA DO BOI
Capistrano, 06 DE JANEIRO DE 2006

No dia 06 de Janeiro de 2005, estimulado por este missivista, na condição de Secretário de Cultura de Capistrano, o Mestre Sebastião Chicute se apresentou em frente à prefeitura de Capistrano. Foi tudo improvisado. No entanto aquela apresentação que não ocorria Há anos, e muito menos na praça pública, serviu de estímulo para todos, brincantes, mestre e secretário de cultura. Prometeu-se que em 2006 seria melhor.
Quando do lançamento do Edital de Cultura do BNB, preparamos um projeto que seria assinado pelo próprio mestre Sebastião Chicute. A idéia era garantir um mínimo de autonomia ao grupo e seu mestre. Para surpresa de todos o dinheiro saiu e o grupo foi revigorado com quatro figuras novas: boi, burrinha, pinta e bode, foram comprados os chapéus-de-couro, roupas, paletós, sapatilhas de couro (imitação0, e os enfeites ds figuras, damas e demais componentes.
A partir daí o grupo levantou a auto estima. Fizeram várias apresentações em fazendas, na praça e em outros municípios. Destas destacamos: A apresentação em Aracoiaba onde recebeu um cachê de R$ 300,00, foi altamente estimulante, depois teve ua apresentação na IMOSTRA DE LITERATURA DE CORDEL em Capistrano, o grupo ganhou um cachê de R$ 200,00 , na sequência se apresentou em outubro na Semana de História da UECE, onde foi muito bem acolhido por estudantes e professores e participou do natal regional em Ocara, dia 26 de dezembro, obtendo o segundo lugar na classificação geraL, MAS INFELISMENTE NÃO TEVE PRÊMIO.
Daí para frente não parou mais, foramvárias apresentações a convite de famílias locais, o que é muito bom.Para finalizar a temporada foi feita a programaçõa para o dia 6 que foi a seguinte.

Primeira Parte:
COMER A LÍNGUA DO BOI: Jantar na casa do mestre Sebastião Chicute oferecido a todos os brincantes e familiares e aos funcionários da Cultura, como convidados especiais. Como é de prache, foi muita comida, os pratos feitos iam nas alturas. A cozinheira foi Luzia Prudêncio Lourenço, mulher do Sebastião. O garçon chefe era o próprio Sebastião, os auxiliares: na cozinha as mulheres dos caboclos e na distribuição, recolhimento dos pratos e serviços gerais, os caboclos mais novos, o delegado, as damas enfim todos se ajudando. De vez em quando, passava uma garrafa da danada e os mais afoitos bibiricavam um gole, Havia os mais modernos que tomavam uma cervejinha. Na sanfona ele, o mais velho do grupo, aquele que ensinou ao Chico Justino, o sanfoneiro Luis Duarte, 84 anos, 70 de batente. Sanfona de 120 baixos, um ciúme danado da sanfona, ningém pega. Tocou da hora que chegou até a saída para a praça. De vez em quando, tomava um gole para o bico aumentar e ficar com mis coragem.
Eram 19:30, sete meia da noite o mestre falou: “ Vão se vestir, tá na hora, a missa vai já terminar.” Olhou para os presentes e disse; “ temos que respeitar a missa, o reisado não pode começar antes da missa termeinar, atrapalha, é a tradição”. Aí os que não iam se vestir, foram descendo. O beco tem uns 80 cm de largura em algumas partes pouco mais que um metro. As figuras saíram do quarto foram colocadas pra fora. Interditou a passagem. Aí houve-se um grito : meino tira essas figura do meio proprofessor passar..” desobstruída a passagem descemos pela frente da casa, um casarão antigo com frente para uma rua e fundos pra outra, com uma carreira de quartos para dormir, agora um dos quartos é do reisado, é a pensão Santa Luzia. As figuras saíram por trás, não passam nos lugasres mais estreitos do beco do hotel.

SEGUNDA PARTE:

Na praça, o povo vai chegando, uns ficam mais perto, outros por acolá, só observando de longe. O próprio Secretpario anuncia a matança do boi e pede para o povo valorizar, pois se tratar de uma autêntia manifestação da cultura popular. Para valorizar mais, enquanto todos não chegam, ler a carta que saiu no Jornal O Povo, falando do reisado. E diz que hoje Capistrano se igualaa municípios como Fortaleza, Juazeiro, Sobral Iguatu e Quixeramobim, todos festejando o dia de reis com o reisado.
O som da praça toca os emboladores Caju e Castanha. Chegou todo mundo. O mestre diz, Luis, vá la pra frente ligar a sanfona, o Luis sai na frente com o panderista eos meninos que são dama saem atrás, ai sai todo mundo com figura e tudo, vão para o fianl da quadra.
O reisado começa, o secretário fala mais uma vez, cumprimenta a todos, diz que está alí em nome do Prefeito e apresenta o mestre. O mestre agradece, e explica: hoje não tem abertura de porta. Aqui não tem porta e hoje é o final. Vamos começar diferente. Vamos começar pelas figuras menores, apresentando cada uma e por último é o boi. Vamos sangrar o boi. Como ele vai morrer então depois da sangria de da repartição está acabada a festa. Aí se dirige pro tocador: Luís vamos começãr com a Burrinha, toca a burrinha. Entra em cena uma burrinha de pano e pau, metade burra metade homem, lembrei das lendas da antigüidade mesopotâmica e egípcia. Mas era uma burra nordestina, magrinha, mas machadeira, foi logo dançando e os caboclos fazendo o trancelim, dança de três pessoas. Ao fundo os caboclos dizendo os relaxos ao som da sanfona e do pandeirocantavam assim
A burrinha do meu amo
Come tudo que lhe dão
A burrinha do meu amo
Só não come carne velha
Sexta feira da paixão
A burrinha do meu amo dançou bem ate agor
Se despede deste povo
Dá um adeus e vai embora

Come tudo que lhe dão
Depois de dançar por uns 10 a 15 minutos o capitão apitou e o Mestre ordenou a partida e aí os caboclos cantavam:
Vá em bora burrinha...

Foi então que o mestre ordenou a entrada da pinta, ordenando ao tocador iniciar a sua música, cuja letra é mais ou menos assim:

Penera penera pinta
Pintinha do meu sertão
Se tu não não ganhar dinheiro
Eu te corto o esporão


A pintinha pois um ovo e este foi oferecido aos presentes. Uns davam o que tinham: um real, cinqüenta centavos. Outros, nada davam, ou por não Ter ou por não apreciar a modalidade de colaborar.

A pintinha penerou aí uns dez a quinze minutos e oi se retirando, mediante oapito do capitão e a ordem do mestre, não conseguiu muita coisa, o povo parecia desprevinido.

Novamente o mestre interveio para ordenar a entrada da figura mais engraçada e espalhafatosa: o bode. Ao tempo emque o sanfoneiro mudava o tom da sanfona. A música do bode é um chote, não muito melódico mas que inspira um duplo sentido, e o povo gosta , é mais ou menos assim:

Marieta amarra o bode
Que esse bode foge
Eu comprei esse bodino
Trouxe aqui pra esse lugar
O danado desse bode
Aprendetu a bodejar

Cantado bem rápido e mal pronunciado o foge fica parecido com outra palavra. Como bode é famoso por suas estripulias dentro de um chiqueiro de cabras, a confusão está feita. Ao cantarem os papangus també remedeiam um bode de verdade fazendo os seus “bodejos”, demodo que a confusão dos caretas em torno do bode é grande... Como os demais o bode se retiou ao som do apito do capitão e a confirmação do mestre. Agora o cenário se preparava para receber o boi, o rei da noite, que, mesmo assim seria sacrificado e seu sangue leiloado junto aos presentes, tamanha a sua importância.
Lá vem lavem meu garrote meu amo
Já vem meu novilho contente
Ele vem se apresentando
Comd uas damas na frente
EleVeio aqui representar o meu amo
Osanto rei doi oriente

Na cabeça do boi


Boa noite pessoal
Vim aqui apresentar
O santo reis do oriente
Que chega em nosso lugar
Por conta do professor
Que mandou eu ir buscar
Diz o profe; artur
Que não se pode deixar
Acultura brasileira
É em primeiro lugar
Mostrar nossa bricadeira a
cultura popular

O boi se aproximava fazendo acrobacias, parecia um garrote novo, embora no seu inteiro tivesse um senhor de 80 anos. Deu um trabalho danado para parar, estava eufórico, ia lá e voltava, dava marradas, estava realmente muito frenético o boi naquela noite. De tanto sapatear o boi cansou, o rítimo era peasado para um senhor daquela idade, mesmo assim não queria sair, para dar lugar a um mais jovem. Mas o fez depois de muita insistência. Ao sair debaixo do boi, tio Velho teve que sentar e descansar um pouco, depois estava no meio dos outros. Aliás eve ser registrado que ele tem um boi emsua casa e que no dia 10 de janeiro faria uma grande festa de seu aniversário, regado a reisado, mas com o seu boi e o mestre Chico do Mundô, o que mostra a dinâmica de um processo que está dspertando antigos hábitos na cidade em meio ao povo.

Mudou o dançarino, mas o boi é o mesmo, agora todos cantam e dizem relacho ao seu redor. A música do boi é assim:
Boa noite pessoal
Ê boi
Lá,lálálá...
Aí depois de muita cantarola o mestre matou o boi. Ato principal da noite. A matança do boi é bem mais ecológica do que a vaquejada. Aqui o boi morre simbolicamente, mas depois ressusita, ain da que não na mesma noite como foi nesse dia mas no próximo reisado, com certeza. Boi morto, passou-se a sangria. “Quem dá mais pelo primeiro copo de sangue” ( conhaque de jurubeba) , diz o mestre. Um alí deu dois reais, ele achou pouco, mas bateu no segundo um deu três, depois um deu dez, depois outro deu quinze isso tudo gritado e cantado em verso pelo mestre.
Mas o que era melhor na sangria era a dificuldade de se retirar este sangue. Uma hora só tinha o copo e o cabra debaixo do boi abaixado querendo se comunicar e os de fora todos falando ao mesmo tempo e nessas alturas só o mestre não tinha bebido um pouco do sangue do boi. A compreensiva confusão poderia ser explicada se houvesse um bafômetro, para verificar a intensidade da embriagues de alguns. Como não havia, presume-se que alguns estivesse realmente um pouquinho embriagados com o sangue do boi que é forte, e assim acontecia noite a dentro.
Mas o secretário teve que sair, então o mestre lhe concedeu excepcionalmente a palavra, foi saudado por todos e levou consigo o relator da peça popular.
Paralelo a tudo isso, corria atrás dos meninos uma velha, com uma máscara horrivel, segurando um chiqueirador, que alguns chamam de macaca. Esta velha fazia a festa dos meninos que preferiam levar uma carreira dela ao ver os outros personagens. Só que no final da fsta a velha perdeu a atenção para um personagem que não fazia parte do grupo: um bêbado. Esse bêbado, um rapaz aparentemente jovem, imitava a todos e se metia no meio dos dançarinos, era retirado e voltava, fazendo com que todos risse de suas trapalhadas, lamentavelmente oriundas do seu alcoolismo. Foi assim que de forma parcial, fram feitos estes registros para que uma noite de reisado ficasse registrado na mem´ria dos que viram e para os que não vieram. Além dos fatos Que registrados muitos outros ocorrerma com certeza e não foram percebidos por este relator, ou fugiram à sua memória, posto que este relatório foi produzido no dia seguinte ao acontecido, mas com certeza serão conrados por outros presentes à sua maneira.

NOITE DE REIS EM CAPISTRANO

NOITE DE REIS EM CAPISTRANO
Francisco Artur Pinheiro Alves
Capistrano, 06 DE JANEIRO DE 2006

No dia 06 de Janeiro de 2005, estimulado por este missivista, na condição de Secretário de Cultura de Capistrano, o Mestre Sebastião Chicute se apresentou em frente à prefeitura de Capistrano. Foi tudo improvisado. No entanto aquela apresentação que não ocorria Há anos, e muito menos na praça pública, serviu de estímulo para todos, brincantes, mestre e secretário de cultura. Prometeu-se que em 2006 seria melhor.
Quando do lançamento do Edital de Cultura do BNB, preparamos um projeto que seria assinado pelo próprio mestre Sebastião Chicute. A idéia era garantir um mínimo de autonomia ao grupo e seu mestre. Para surpresa de todos o dinheiro saiu e o grupo foi revigorado com quatro figuras novas: boi, burrinha, pinta e bode, foram comprados os chapéus-de-couro, roupas, paletós, sapatilhas de couro (imitação, e os enfeites das figuras, damas e demais componentes.
A partir daí o grupo levantou a auto estima. Fizeram várias apresentações em fazendas, na praça e em outros municípios. Destas destacamos: A apresentação em Aracoiaba onde recebeu um cachê de R$ 300,00, foi altamente estimulante, depois teve uma apresentação na IMOSTRA DE LITERATURA DE CORDEL em Capistrano, o grupo ganhou um cachê de R$ 200,00 , na seqüência se apresentou em outubro na Semana de História da UECE, onde foi muito bem acolhido por estudantes e professores e participou do natal regional em Ocara, dia 26 de dezembro, obtendo o segundo lugar na classificação geraL, MAS INFELISMENTE NÃO TEVE PRÊMIO.
Daí para frente não parou mais, foram várias apresentações a convite de famílias locais, o que é muito bom.Para finalizar a temporada foi feita a programação para o dia 6 que foi a seguinte.

COMER A LÍNGUA DO BOI: Jantar na casa do mestre Sebastião Chicute oferecido a todos os brincantes e familiares e aos funcionários da Cultura, como convidados especiais. Como é de prache, foi muita comida, os pratos feitos iam nas alturas. A cozinheira foi Luzia Prudêncio Lourenço, mulher do Sebastião. O garçom chefe era o próprio Sebastião, os auxiliares: na cozinha as mulheres dos caboclos e na distribuição, recolhimento dos pratos e serviços gerais, os caboclos mais novos, o delegado, as damas enfim todos se ajudando. De vez em quando, passava uma garrafa da danada e os mais afoitos bibiricavam um gole, Havia os mais modernos que tomavam uma cervejinha. Na sanfona ele, o mais velho do grupo, aquele que ensinou ao Chico Justino, o sanfoneiro Luis Duarte, 84 anos, 70 de batente. Sanfona de 120 baixos, um ciúme danado da sanfona, ninguém pega. Tocou da hora que chegou até a saída para a praça. De vez em quando, tomava um gole para o bico aumentar e ficar com mis coragem.
Eram 19:30, sete meia da noite o mestre falou: “ Vão se vestir, tá na hora, a missa vai já terminar.” Olhou para os presentes e disse; “ temos que respeitar a missa, o reisado não pode começar antes da missa terminar, atrapalha, é a tradição”. Aí os que não iam se vestir, foram descendo. O beco tem uns 80 cm de largura em algumas partes pouco mais que um metro. As figuras saíram do quarto foram colocadas pra fora. Interditou a passagem. Aí houve-se um grito : “menino tira essas figura do meio pro professor passar..” desobstruída a passagem descemos pela frente da casa, um casarão antigo com frente para uma rua e fundos pra outra, com uma carreira de quartos para dormir, agora um dos quartos é do reisado, é a pensão Santa Luzia. As figuras saíram por trás, não passam nos lugares mais estreitos do beco do hotel.
Daí para frente os papangus, as figuras, em fim todo o grupo tomava conta da praça. Naquela noite de dia dos reis, mais uma vez a praça era do povo.