segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

TESOUROS VIVOS DA CULTURA NO CEARÁ


A Secretaria da Cultura do Ceará define como “Tesouros Vivos da Cultura” as pessoas, grupos e comunidades que são, reconhecidamente, detentoras de conhecimentos da tradição popular do Estado. Através de edital público, a Secult identifica e recebe inscrições para o processo seletivo que confere o título e um auxílio financeiro temporário ou vitalício aos selecionados no valor de um salário mínimo. Este reconhecimento é o primeiro passo para que se consiga, futuramente, reivindicar o direito à proteção da propriedade intelectual dos artistas populares. O programa de reconhecimento e apoio aos artistas que tem suas artes ou ofícios ligados à cultura imaterial foi reconhecido no ano de 2007, pelo MInistério da Cultura, com o prêmio Culturas Populares.
Legislação - O Ceará deu um passo adiante de outros Estados brasileiros na preservação e proteção do seu patrimônio imaterial. Com a Lei nº 13.351 (27 de agosto de 2003), o Governo do Estado, através da Secretaria da Cultura (Secult), garantiu o registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular, apoiando e preservando a memória cultural do nosso povo, transmitindo às gerações futuras o saber e a arte sobre os quais construímos a nossa história. Em 2006, esta Lei foi revisada e ampliada, trazendo a manutenção dos grupos e coletividades. Publicada no Diário Oficial do Estado do Ceará, a Lei dos Tesouros Vivos da Cultura (Nº 13.842, de 27 de novembro de 2006) está disponível neste site no link Legislação.
Livro dos Mestres - Diplomado “Tesouro Vivo”, que é um reconhecimento simbólico de sua importância no contexto cultural do Estado, o artista tem seu nome inscrito no Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular, livro próprio da Secretaria da Cultura, específico, sob a guarda da Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural (COPAHC).
MESTRES DA CULTURA 2006
Nome: Sebastião Alves Lourenço
Nome Artístico: Sebastião Chicute
Data de Nasc.: 24/04/1934
Tradição Cultural Desenvolvida: Cordelista e reisado.
Cidade: Capistrano
Mestre Sebastião Chicute, além de mestre de reisado, tem também a arte de fazer versos como autor de livros de cordel e de canções sertanejas. Teve sua vida toda dedicada à cultura, através de seu esforço pessoal, sem apoio oficial, sempre se procurou manter viva a tradição do cordel e reisado.

Fonte: www.secult.ce.gov.br
Pesquisador:
FRANCISCO ARTUR PINHEIRO ALVES

REISADO DE CARETAS DO MESTRE SEBASTIÃO CHICUTE


Francisco Artur Pinheiro Alves
Artur.uece@yahoo.com.br

No período, entre o natal e o dia de Reis, há a tradicional brincadeira dos caretas ou papangus. Na verdade é uma das versões do bumba-meu-boi, que no Pará e Maranhão acontece no período junino, mas que em outras partes do Brasil, como no Ceará, ocorre no natal. Trazido pelos portugueses da Península Ibérica, aqui se adaptou e recebeu as diversas conotações regionais. Em Capistrano esta tradição vem sendo mantida pelo mestre de nossa cultura Sebastião Alves Lourenço ( Sebastião Chicute). Ano passado o reisado do mestre Sebastião Chicute foi premiado pelo BNB de Cultura, motivo de orgulho para todos os capistranenses. Este fato fez com que a própria cidade valorizasse mais o seu grupo de tradição popular, tendo assistido a várias apresentações no segundo semestre, mesmo antes das festas de Natal e do dia de reis. O grupo também foi convidado para se apresentar em outras cidades como: Itapiúna, Aracoiaba, Fortaleza e mais recentemente em Ocara.
O reisado do mestre sebastião Chicute é um grupo formado por homens da terceira idade, em sua maioria, crianças e adolescentes, mulheres, cada um com a sua função. Há o grupo de caretas, os caboclos, que em outras regiões, são denominados de Mateus,, os que compõem a segurança, (polícia) as damas, (este jovens adolescentes), a velha, que assusta as crianças, o sanfoneiro, o pandeireta e os que dançam com as figuras. As mulheres ficam no apoio, não dançam. As figuras, são: o boi, a principal, ele dança, é morto, repartido e depois ressuscita; a burrinha, que dança o trancelim, uma coreografia em forma de 8, a pinta, que é uma versão da ema, posto que não há emas em nossa região, e o bode, que é o mais espalhafatoso. Ao que parece, a figura do bode é mais uma adaptação regional, devido ao folclore que se tem em torno deste animal no sertão.
Eles dançam e cantam do início ao fim da comédia, recitando versos decorados e improvisados, dependendo da capacidade artística do componente. Tudo sob o comando do mestre, que determina o momento certo da entrada e saída de cena de cada caboclo. É uma tradição que foi esquecida com o advento das novas tecnologias na área do lazer e do entretenimento e com o processo de urbanização, mas que está sendo, como que renascendo.
Este registro é parte de uma trabalho de extensão universitária que estamos desenvolvendo em Capistrano, no qual queremos mapear e catalogar todos os grupos de reisados do município, atuais e que já se extinguiram, bem como o registro de cada membro como autênticos portadores da cultura popular. Em dezembro, queremos fazer o primeiro festival de reisados da região, em Capistrano, para isso já estamos fazendo os primeiros contatos com a SECULT, para nos apoiar nesta empreitada.

REISADO do Mestre Sebastião Chicute de Capistrano


Prof.Dr. Francisco Artur Pinheiro Alves
artur.uece@yahoo.com.br

Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro de Luis da Câmara Cascudo, reisado é a denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera do dia de Reis ( 6 de janeiro) ... O reisado tem sua origem na Idade Média. O auto popular profano-religioso, pertence ao ciclo natalino, é formado por grupos de músicos, cantadores e dançadores que vão de porta em porta anunciara chegada do Messias e homenagear os três Reis Magos. O reisado pode ser apenas cantoria como também possuir ou série de pequenos atos encadeados ou não (Cascudo, 2001: 581).
Estamos vivenciando exatamente o ciclo natalino e apesar da grande mudança no comportamento das pessoas influenciadas pela ideologia consumista do Capitalismo, que transformou o natal em uma festa predominantemente consumista, ainda existem grupos de reisado que resistem às estas transformações. A prova disso é esta reportagem do Jornal O POVO, sobre o grupo Cordão Caroá que se apresenta no Benfica e que no dia 6 fará uma grande apresentação, com vários mestres e grupos de reisado tradicionais, na Reitoria da UFC em Fortaleza.
Sabe-se também que no Cariri, sobretudo em Juazeiro, há vários grupos de reisado e que se apresentam neste período do ano. Conversando com pessoas mais velhas, elas são unânimes em afirmar que quando criança, assistiam e participava, até, de grupos de reisado em seu bairro, ou na localidade em que viviam. O reisado fazia parte dos festejos natalinos, todos participavam. Via de regra estas pessoas guardam na memória fragmentos de músicas e versos que cantavam e recitavam nas brincadeiras de reisado.
Particularmente a partir de 2005, temos acompanhado as apresentações do mestre Sebastião Chicute, em Capistrano e temos constatado a vitalidade que estas pessoas que brincam reisado, no caso do grupo dele, muitos acima dos 70 anos. De assistente passamos a pesquisador e onde produzimos um estudo sobre o mestre da Cultura Sebastião Chicute, onde procuramos fazer uma relação com a educação patrimonial imaterial.O resultado de tal pesquisa foi nossa tese de doutorado defendida junta à Universidad Autônoma de Asunción. Um dos capítulos da tese é exatamente a análise do reisado, posto que além de mestre de reisado, Sebastião Chicute é também cordelista.
E para contribuir com a continuidade da brincadeira de reisado na região, promovemos todos os anos, no final de semana mais próximo do dia de reis, uma terreirada em uma pequena casa que possuímos na localidade de Carqueija dos Alves em Capistrano, e que abriga um embrião de um ecomuseu rural.
Este ano de 2012, no que pese a saúde do Mestre Sebastião Chicute não permitir que ele faça muito esforço sobretudo em pé, dançando, mas está garantida a apresentação do grupo no dia 07. Estaremos lá: Sebastião Chicute, Luzia sua companheira, Milagre o dançador da burrinha, Capitu, Luis Silva, Luis Duarte, com 85 anos, com sua sanfona, Adriano no papel da vitalina, Sr Manuel, Pirulito no papel de soldado, dentre outros que acompanham o mestre Chicute. Assim na teoria e na prática, estamos contribuindo para a preservação deste auto de natal, de caráter popular que a centenas de anos vem sendo transmitida de geração para geração, se renovando se readaptando aos tempos e lugares, mas preservando o seu núcleo central que é a homenagem aos Reis magos que visitaram o Menino Jesus em sua manjedoura conforme está descrito pelo evangelista Mateus.